Considerações importantes sobre o pensamento de Paulo Freire
Para ampliarmos a discussão em
torno das bases teóricas da pedagogia crítica, torna-se imprescindível analisar
com profundidade o pensamento de Paulo Freire. Este autor elabora parâmetros
importantes para que o processo educacional seja tratado em uma dimensão
política. Destacamos aqui aspectos
importantes na leitura dos seguintes livros: Pedagogia do Oprimido e Pedagogia da Autonomia - saberes necessários à
prática educativa.
Estas obras do mais conhecido autor
brasileiro na área de Educação é de grande importância para pensar um paradigma
educacional que possa trazer mudança social. Pode-se destacar que a partir da
ideia de um ser inconcluso, Freire
aborda e dimensiona qual o papel do
educador na construção de um conhecimento que possa elevar os indivíduos à
condição de sujeitos, rompendo com a situação de passividade durante o processo
de ensino-aprendizagem. Para Freire, ensinar exige rigorosidade metódica, que
na visão deste autor pode ser entendida como:
“trabalhar com os educandos a
rigorosidade metódica com que devem se “aproximar” dos objetos cognoscíveis. E
esta rigorosidade metódica não tem nada que ver com o discurso “bancário”
meramente transferidor do perfil do objeto ou do conteúdo. É exatamente neste
sentido que ensinar não se esgota no “tratamento” do objeto ou do conteúdo,
superficialmente feito, mas se alonga à produção das condições em que aprender
criticamente é possível. E essas condições implicam ou exigem a presença de
educadores e de educandos criadores, instigadores, inquietos, rigorosamente
curiosos, humildes e persistentes.” (FREIRE, 1996, 13).
É importante ressaltar que para
que uma educação que leve à autonomia se efetive, deve-se sempre partir do
princípio de saber escutar os
educandos, tornando-os protagonistas de seu processo educativo. Para que uma prática educativa ganhe
significado, constata-se a necessidade da sala de aula torna-se um ambiente
democrático, com estímulo à participação coletiva, pois “o educador democrático não
pode negar-se o dever de, na sua prática docente, reforçar a capacidade crítica
do educando, sua curiosidade, sua insubmissão.” (FREIRE, 1996 p.13).
Para o professor, não há docência sem discência. Esta expressão pode ser entendida no
contexto de formação dos educadores; que precisam estar sempre em processo de
aprendizado, tendo a pesquisa como elemento importante. O educador deve
entender a educação como uma prática libertadora. Não deve permitir que a
escola permaneça como um espaço para a mera transferência de conhecimento, na
tradição bancária do ensino. Para esclarecer isso Freire afirma que:
Faz parte das condições em
que aprender criticamente é possível a pressuposição por parte dos educandos de
que o educador já teve ou continua tendo experiência da produção de certos
saberes e que estes não podem a eles, os educandos, ser simplesmente
transferidos. Pelo contrário, nas condições de verdadeira aprendizagem os
educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da
reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do
processo. (FREIRE, p. 13)
Assim, o respeito aos educando torna-se
fundamental. A esperança que exige ação; uma busca de propósitos e significados
para o ensino; práticas dotadas de sentido; um ambiente permita ao aluno ser mais. Destaca-se aqui com bastante
ênfase, o papel da educação em uma escola que respeita a realidade dos
educandos, com alta prioridade na dialogicidade, sobretudo no intuito de
desvelar as contradições da sociedade que
não é, está sendo. Dessa forma, consiste em um dever ético dos educadores,
não ocultar o caráter político transformador de sua ação.
Outro fator que merece ser
assinalado é a presença da ótica humanizadora na obra de Freire, que se caracteriza
como processo ontológico à educação. Ou seja, esta dimensão será sempre
indissociável ao trabalho do professor. Não se pode pensar em educação sem
tratá-la na perspectiva humanização; saber da condição terrena, perceber o
outro em volta. O respeito à diversidade como premissa para a melhor
convivência em sociedade. A necessidade de romper com a opressão, mas ao mesmo
tempo não se tornar opressor. A humildade, a alegria, o apreço em buscar sempre
a dignidade, a crença que a mudança é possível.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários
à prática educativa. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1996.
______________ Pedagogia
do Oprimido. 17ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987