quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Reflexões sociológicas 1

Sociedade e Consumo



A chamada revolução industrial trouxe para a humanidade novas tecnologias para o resolução de problemas cotidianos, mas trouxe também elementos novos para as relações estabelecidas entre as necessidades reais de consumo e a estimulação ao consumismo. A capitalização de lucros em torno da venda de produtos pode significar a aplicação de constantes inovações tecnológicas para que renovem os interesses de consumidores, e cada vez mais, buscam soluções para os problemas advindos com a própria modernidade no mercado de produtos. A configuração social estabelecida  está é a da satisfação do desejo associada a aquisição de mercadorias ou serviços. Como diria o velho Marx, para ser feliz, todos devem ter, comprar, mesmo que isso leve a uma padronização de comportamentos e de atitudes dos indivíduos, que passam de consumidores para consumidos, em uma lógica cada vez mais voraz, permeada por ideologias e situações concretas de dominação.



Neste momento, a indústria, com uma imagem poderosa, quase sobrenatural, transforma os sonhos de clientes em doses de ilusões que acalentam a alma por um curto período de tempo. A cultura, não obstante neste processo, passa a ser comercializada em larga escala. Na música, no teatro, no cinema, na literatura, enfim, em várias modalidades artísticas, os produtores culturais deixam suas premissas de transformação social e passam a arquitetar projetos utilitaristas, consumíveis em um curto prazo. A estética padrão passa a delinear a criação e a criatividade. A produção em série remete o eu ao nós, um coletivo adestrado, vigiado e pronto para trocar os rótulos de seus produtos mediante a uma boa campanha publicitária.



É possível perceber a lógica da propaganda que coloca as nossas necessidades em objetos de consumo criados pela indústria, no curta metragem, A Alma do Négócio, de José Roberto Torero, 1996, que em sua sinopse mostra "um perfeito casal-propaganda leva uma vida feliz e tranqüila até descobrir que seus maravilhosos produtos podem fazer muito mais do que prometem." Este filme traduz de forma crítica os efeitos negativos da padronização consumista ditada pela propaganda. As armadilhas encontradas em uma simples ferramenta doméstica que promete resolver todos os problemas e coloca a rotina das pessoas em uma direção editada e pensada pelo modo de produção capitalista.



"Os deuses devem estar loucos", mas na sociedade do consumo, ou na sociedade consumista, o que está em jogo é o lucro, mesmo que a repetição seja uma norma a ser seguida. Até mesmo a arte, que em uma visão romântica, teria o papel de estimular o conhecimento e não o contrário. A epistemologia da questão de repente seja a reflexão sobre o que de fato é cultura, como ela se manifesta na sociedade e quais os possíveis caminhos para a preservação das singularidades e da autonomia tão necessária para o exercício da razão.

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